Peço licença e pego emprestado o Espaço do Jurandyr, melhor conhecido como Seu Jura, para, como seu filho, colocar meus pensamentos e reflexões no lugar do dono deste blog.
Na madrugada de ontem dia 15 de abril de 2021, às 04:35, meu pai deixou o plano terrestre e ganhou um upgrade para o plano espiritual. Não foi esperado nem tampouco por motivos óbvios ou previsível, até porque ele em si não era nem óbvio e nem previsível. Foi um ataque de ansiedade que levou a um enfarto que por sua vez a duas paradas cardíacas. Tudo isso em questão de poucas horas, surpreendendo a todos que o conheciam e o cerrcavam.
A partir disso o dia de ontem foi um dia corrido entre tristezas, choros, burocracias, logisticas, e teve segundo seu próprio desejo, um velório na sua residência tão recorrentemente descrita aqui nesses espaço em uma capela conhecida por todos os que lá já visitaram. Venho então aqui deixar um primeiro agradecimento à administração pela agilidade e qualidade do preparativo para receber um de seus moradores para essa despedida. Limitada pelas regras sanitárias, precisou ser de curta permanência e sem abertura para visitantes externos além dos familiares próximos, no caso, eu, minha esposa e filhos.
Mina expectativa era um velório silencioso e com meia dúzia de pessoas dada as circunstâncias, mas fomos surpreendidos ao chegar com muitos moradores e profissionais, 100% vacinados com a 1a e 2a dosa da vacina, já ao redor do caixão em clima de saudade e trazendo a memória episódios e comportamentos de meu pai. Com todo cuidade pediram autorização para conduzir a liturgia em um formato que estavam acostumados e que, certamente, meu pai já tinha presenciado e participado inúmeras vezes enquanto esteve nesses 13 anos lá. Ouvindo a oração, seguido de um louvor de Salmo conhecido e canção que acertadamente ele conhecia e gostava muito, inclusive cantada por ele no passado dentro da própria intituição em um dos inúmeros eventos, nos trouxe alegria e acerto na escolha dessa reta final em sua vida. Fica então um segundo agradecimento a cada profissional e morador que se manifestou e participou desse acontecimento.
Há alguns anos atrás ele tinha me convidado para visitar o Cemitério Vertical de Curitiba, vizinho do Lar de Idosos, para saber o procedimento e custo de cremação. Era outro desejo dele. Foi então deixado engatilhada essa possibilidade o dia que chegasse a hora, e depois de algumas alternativas estudadas, conseguimos realizar esse desejo para, daqui a alguns dias quando recebermos as cinzas, espalharmos nos jardins de sua última morada.
Situação inesperada e desejos atendidos com esse apoio de luxo aonde morava, ficou a tristeza e a saudade, que me impeliu de escrever em seu espaço.
Digo então aos leitores que cheguei aos 51 anos com uma maturidade que me permite saber que pouco sei, e reconhecer aqueles que me ajudaram a chegar aonde cheguei e ser o que sou. O primeiro deles, foi meu pai. O dono deste blog. Ouvi estórias que não me lembro ter vivido pela pouca idade (aprender a ler primeiro de cabeça pra baixo, por exemplo) mas contado por ele mais tarde e muitas, mas muitas, aprendidas graças a convivência e observância do que fazia. Sinuqueiro contumaz, apelidado até de Rui Chapéu por um tempo, me ensinou a jogar entendendo filosoficamente o jogo do que significa a defesa, o ataque, o preparo, o planejamento 3, 4 jogadas a frente, sem a menor piedade em cada jogo, por um motivo muito simples “o dia que voce me ganhar, será mérito exclusivamente seu” dizia ele. Frases como essas saíam em baldes para quem se aproximasse. Ensinamentos como “se voce está fazendo força, algo está errado” sempre dita em situações que faziam refletir em qualquer momento da vida e aplica-la. Sim, ele gostava de ensinar e fazer as pessoas refletirem e enxergarem sobre novas perspectivas. Analogias era seu forte também, junto com seu prazer em contar estórias.
De característica nômade, morou em dezenas de lugares e cidades, sempre se adaptando e resolvendo problemas de forma criativa, inteligente, com o que tinha em mãos sem quase reclamar. Fazendo amigos em seu caminho, sempre teve a admiração de seus familiares diretos e os filhos deles, e os filhos dos filhos deles. Fui por um tempo, algumas vezes, associado a ele pela calma, habilidades manuiais, humor e, por que não, aparência. Nunca me incomodei com isso. Gostava. Quem não gosta de ser associado a alguém que admira? Mas o mais importante que, nesse momento triste, passa pela cabeça de todo filho é… o que ele pensava de mim? O que fiz no passado, o que fiz recentemente, o que ele esperava de mim, foi satisfatório? Trouxe orgulho? Fiz valer esse legado que deixou sob minha pessoa? Não sei. Quero acreditar que sim. Algumas vezes ouvi dele mesmo que sim. Mas, como disse acima… não sei. Ninguem sabe com certeza o que passa no coração dos Homens a não ser ele mesmo e nosso único e suficiente Deus.
Me restou então, nesse dia seguinte ao seu falecimento, dividir meus pensamentos e lembranças homenageando e retribuindo suas estórias aqui com essa minha própria sobre ele. O wi-fi do céu provavelmente é o melhor que existe, permitindo a ele ler o que escrevo agora. Assim podemos encerrar de forma certa sua vitrine tão extensa e cheia de registros históricos, publicando…
…O ÚLTIMO POST.